Uma Revolta Esquecida
- tribunaporto
- 21 de out. de 2024
- 3 min de leitura
Quando Dom Pedro I abdicou o seu trono e favor de seu filho Pedro de Alcântara, este não pôde assumir porque tinha apenas 5 anos de idade. As leis brasileiras não permitiam que um monarca assumisse o trono antes de completar a maioridade. Até que Dom Pedro pudesse subir ao trono, o Brasil foi governado por Regentes. Esse período foi chamado de Período Regencial e foi marcado por intensos conflitos e movimentos contestatórios.
Esses conflitos, de causas diversas, ocorreram, sobretudo, por um senti mento das províncias de desatenção do governo central. Assim, ocorreram no Brasil a Revolta das Carrancas, em Minas Gerais, no ano de 1833, quando os escravizados revoltosos se levantaram contra os fazendeiros da família Junqueira. Em 1835, na província da Bahia, outra revolta de escravizados: o levante dos malês, muçulmanos de origem africana que lutaram contra a escravidão. No mesmo ano ocorreram outros dois levantes: a Cabanagem (ou Revolta dos Caba nos), no Grão-Pará; e a Revolução Farroupilha no Rio Grande do Sul, a mais duradoura desses conflitos, tendo durado uma década. Em 1837 ocorreu na Bahia nova agitação com a chamada Sabinada.
Cada um desses episódios tem suas particularidades. As revoltas dos escravizados era contra o cruel sistema da escravidão. A Cabanagem lutava por maior autonomia das províncias, bem como pela melhoria das condições de vida, especial mente dos mais pobres. A Farroupilha foi liderada pela elite produtora do charque (carne seca) e pelos estancieiros criadores de bovinos descontentes com a política brasileira que valorizava os produtos estrangeiros. A Sabinada também lutava pela ampliação da autonomia da província, bem como contra o recrutamento de baianos para lutarem contra os farrapos do Rio Grande do Sul.
Essas são os movi mentos contestatórios da Regência presentes nas páginas dos livros didáticos. Qualquer estudante do ensino fundamental ou médio estudará essas revoltas. Porém, até o ano de 1834 ocorreram revoltas restauradoras, ou seja, com a proposta de restauração do governo de Dom Pedro I, que estava em Portugal. Esse grupo, o dos restaura dores, perdeu sentido de existência em 24 de setembro de 1834. Porém, até essa data havia grupos que lutavam pelo retorno do monarca.
Uma dessas revoltas teria ocorrido na Província de Alagoas e fora liderada por Luiz Roma. Diz Manoel Nunes Cavalcanti Junior, em seu trabalho O Egoísmo, A Degradante Vingança e o Espírito de Partido: A História do Predomínio Liberal ao Movimento Regressista (Pernambuco, 1834-1837), que Luiz Roma e seus irmãos incluindo Francisco e João Ignácio Ribeiro Roma eram “filhos do mártir de 1817, José Ignacio Ribeiro de Abreu e Lima, o Padre Roma”. A traje tória política dos irmãos Roma passou de constitucionalistas federalistas, no Primeiro Reinado, passando pela Confederação do Equador, e, após a abdicação de Pedro I, ao grupo dos restauradores durante a Regência.
O jornal Bússola da Liberdade, edição de 25 de março de 1832, noticiou na página 2 “a prizão que em Maceió soffreu, e continua a soffrer, o Sr. Luís Ignácio Ribeiro Roma (vulgo Luiz Roma) pela seducção, que ali andava fazendo ao Povo, segundo dizem, para uma revolta a favor de Pedro 1º”.
De acordo com esse mesmo jornal, “Há dias, affirmarão-nos, que o Sr. Luiz Roma achava-se em S. Miguel dos Barreiros, pequeno arraial povoado de Indios, e gente idiota, encravado na freguesia de Uma, reduzindo aquelle miserável povo para uma revolta a favor de D. Pedro 1º, tendo no transito, que para ali fez, descançado em vários Engenhos ao Sul desta Capital...”. De acordo com a publicação, Luiz Roma convocou o povo a pegar em armas “para salvar a tantas famílias afflitas, que estavão reduzidas à mizéria pela auzência do Sr. D. Pedro 1º”.
A revolta, ao que tudo indica, não prosperou porquanto Luiz Roma foi preso como líder do movimento. Esse é um exemplo de revolta do tempo das Regências, mas que, possivelmente, por não ter um deslinde mais expressivo que garantisse uma página nos livros didáticos. Por outro lado, o conhecimento de sua ocorrência amplia a nossa visão sobre esse período, marcado por profundos interesses po líticos de ordens diversas. Ajuda a compreender, por exemplo, que os restaura dores foram muito mais que um grupo político que desejava o retorno de Dom Pedro I ao Brasil.
Carlos Carvalho Cavalheiro é professor, mestre em educação, escritor, pesquisador e colaborador da TRIBUNA


%2015_46_36_7c53fb05.jpg)


Comentários