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Um Viajante Famoso em Porto Feliz

HABITANS DE GOYAZ. Esta gravura, que reproduz um desenho de Rugendas, é comumente usada como ilustração do relato de D’Alincourt

Quem procurar pelo nome de Luiz D’Alincourt na internet ou em livros de História encontrará uma biografia recheada de fatos interessantes e de aventuras.


Segundo Wikipedia, por exemplo, Luiz D’Alincourt “foi um militar, escritor, ensaísta, memorialista, pensador, ativista, intelectual e pesquisador português, radicado no Brasil. Foi oficial do Real Corpo de Engenheiros”.


Nascido em Oeiras, Portugal, em 1787, veio ao Brasil logo depois da transferência da Família Real portuguesa, chegando ao Rio de Janeiro em 1809. Ali ele concluiu o curso da antiga Academia Militar do Rio de Janeiro. Com a Independência, prestou serviços ao então Imperador Dom Pedro II (já os havia prestado ao rei Dom João VI).


Em 19 de maio de 1824 estava em Porto Feliz, de acordo com publicação do Diário Fluminense, edição de 2 de março de 1825, encarregado que estava de adentrar o sertão de Mato Grosso para realizar estudos de estatística e topografia. Desde o século XVIII a cidade era utilizada como porto de partida para o interior do País. Assim, tornou-se óbvia a presença de D’Alincourt na então Vila de Porto Feliz.


O viajante publicou um relato de sua viagem no jornal carioca, informando que sua tarefa foi “iniciada no porto geral da Villa de Porto Feliz, em 19 de Maio do corrente anno, e como o possível cuidado observei o giro tortuoso do Tietê, a qualidade de suas margens, o terreno contíguo; bem como os estabelecimentos, e moradas próximas ao mencionado rio...”. Datado de 9 de setembro de 1824, esse relatório escrito por Luiz D’Alincourt, Sargento Mor Engenheiro, estava endereçado para João Severiano Maciel da Costa, então Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Império.


D’Alincourt ainda discorreu sobre as famosas “correntezas, caxoeiras e, catadupas” do rio. Tudo isso para organizar a expedição, “marcando ao mesmo tempo a linha de navegação, que devem seguir as embarcações, para não perigarem nos escolhos”.


O viajante estava animado com suas observações e estudos a ponto de manifestar “o desejo ancioso de que sejão impressas”, e complementa com a triste realidade com a qual ainda vivemos, o que torna o seu texto atualíssimo, do triste descaso e esquecimento que os grandes feitos e os estudos aprofundados sobre o nosso país recaem, em comum, no sono do esquecimento.


Relata D’Alincourt que “move-me igualmente ter por axioma, que as obras empreendidas para utilidade geral, e para cuja perfeição, e aumento todos podem concorrer, demandão huma inteira publicidade, de que os efeitos sempre são mui felizes, e em grande número: donde concluo, que os trabalhos de que trato, huma vez que partão de observações fieis, nunca devem desprezar, por mal ordenados, e escritos que sejão; principalmente no Brasil, aonde são tão escassos; deles tira- -se proveito sempre, pois que se não he bom tudo, também não he tudo máo. Ao contrario, vendo o homem, que as suas vigílias, e fadigas tem por sorte ficarem cobertas com o escuro pó do esquecimento, então abate-se o patriotismo, esfria o brio de seus desejos, acanhão- -se as faculdades do seu espírito, e o egoísmo pernicioso, para desgraça de huma Nação, não tarda a dominar...”.


Ele fala com propriedade sobre esse assunto, uma vez que, no mesmo texto, reclama a seguir sobre as memórias que havia produzido sobre uma viagem que realizara em 1818, no governo do então Dom João VI, da Villa de Santos até Cuyabá, e que “tudo ficou sepultado no profundo abysmo das trevas”, sem que lhe fosse concedido, ao menos, o reconhecimento por importante trabalho em prol da coletividade.


Em 16 de novembro de 1825, D’Alincourt publica novamente no Diário Fluminense extenso texto sobre sua viagem. Nesse relato, há uma controvérsia em relação a data em que esteve em Porto Feliz. Datado de 7 de setembro de 1824, nesse texto D’Alincourt diz que “Da Villa de Porto Feliz, em data de 5 de Maio do corrente anno, tive a honra de participar a V. Ex., que estava a seguir viagem para a Província de Matto Grosso, e qual era a ordem dos trabalhos statíticos, que pretendia adoptar: em consequência dei princípios à minha tarefa...”.


As duas cartas são muito semelhantes, o que leva a crer que tenham sido publicadas uma como correção da outra. O fato é que em maio de 1824 esteve em Porto Feliz esse engenheiro, que rumava para Cuiabá, seguindo os passos dos paulistas de outrora e mostrando a importância estratégica de Porto Feliz e sua contribuição para a ampliação e conhecimento do território nacional.


Carlos Carvalho Cavalheiro é professor, mestre em educação, escritor, pesquisador e colaborador da TRIBUNA

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