A pintura mostra o Padre Jesuíta José de Anchieta (Padre Anchieta), considerado o “Apóstolo do Brasil”. José de Anchieta nasceu na cidade de San Cristóbal de La Laguna – Tenerife (Espanha) –, no dia 19 de março de 1534 e faleceu na Aldeia de Reritiba, atual cidade de Anchieta, no Estado do Espírito Santo, no dia 9 de junho de 1597.
Anchieta foi um dos pioneiros na introdução do cristianismo no Brasil, razão pela qual foi beatifica do em 1980 pelo Papa João Paulo II e canonizado pelo Papa Francisco no ano de 2014. José de Anchieta desenvolveu o sacerdócio no Brasil, inclusive na Aldeia de Maniçoba que, de acordo com o mapa do Brigadeiro Sá e Faria elaborado no ano de 1774, seria a atual cidade de Porto Feliz.
Anchieta chegou ao Brasil em 8 de julho de 1553 e desembarcou na cidade de Salvador (Bahia). Ali o ilustre sacerdote conquistou a simpatia e a amizade dos indígenas, que lhe ensinaram o idioma tupi-guarani. O conhecimento da língua falada pelos índios possibilitou a José de Anchieta a fundação de uma escola para ensinar não apenas os indígenas como também os filhos dos colonos, fato que o consagrou como o primeiro Mestre do Brasil.
Em 24 de dezembro de 1553 Anchieta foi chamado para trabalhar na Capitania de São Vicente, onde se encontrou com o também sacerdote jesuíta Manuel da Nóbrega. Em janeiro de 1554 Anchieta e Nóbrega abriram a segunda escola de gramática do Brasil, pois a primeira havia sido na Bahia, surgindo assim a atual cidade de São Paulo, então conheci da como Piratininga, onde os referidos sacerdotes celebraram a primeira missa no dia 25 de janeiro de 1554.
Depois disso o Padre Manuel da Nóbrega saiu de São Paulo com destino à Aldeia de Maniçoba, conhecida naquela época como um povoamento à altura do atual Rio Tietê, onde os índios faziam porto. Nóbrega embarcou então naquele que viria a ser o Porto de Araritaguaba para alcançar o Rio Paraná e a Mesopotâmia Paraguaia.
A Aldeia de Maniçoba localizava-se à margem esquerda do Rio Tietê, então chamado “Rio Grande” ou “Anhemby”, onde sempre existiu o referido “Porto”, que deu início à navegação fluvial monçoeira.
Diz a história que o Padre José de Anchieta no exercício do seu sagrado ministério passou pela Aldeia de Maniçoba no ano de 1561, com a missão de ensinar os índios e de levar o alvará de perdão aos fugitivos Domingos Luís Grou e Francisco Correia, que haviam sido cúmplices na prática de um mesmo delito. Nessa missão Anchieta navegou por uma corredeira que posterior mente foi denominada como “Abarémanduaba” e, nessa corredeira, a pequena embarcação onde se encontravam o padre e alguns índios, naufragou, momento em que os seus ocupantes nadaram até a O Milagre do Padre Anchieta em Porto Feliz: margem do rio, onde no taram a falta do sacerdote.
Decorridos alguns minutos e vendo que o padre não surgia, os índios imaginaram que estivesse morto. Foi nesse momento que o índio de nome “Araguaçu” mergulhou até o fundo do rio por diversas vezes e, numa delas, segundo a lenda, encontrou Anchieta sentado sobre uma pedra lendo tranquilamente o seu breviário, como se nada tivesse acontecido. Esse fato ocorrido na Aldeia de Maniçoba, que estaria localizada no território da atual cidade de Porto Feliz, ficou conhecido como o “Milagre do Padre Anchieta”. A cachoeira onde tudo aconteceu foi batizada como “Abarémanduaba” que, na língua tupi-guarani, significa “o lugar onde o padre naufragou”.
Sobre esse assunto o historiador Brasílio Machado escreveu que no ano de 1560 o padre José de Anchieta se fez missionário, indo catequizar os índios terra adentro e, em 1561, fez a incursão pelo Rio Anhemby, onde naufragou logo abaixo da atual cidade de Porto Feliz, em uma cachoeira conhecida como “Abarémanduaba”, traduzindo-a como a “Cachoeira do Padre”.
O escritor Pero Rodrigues, autor da biografia de Anchieta e também seu contemporâneo, é mais detalhista em relação ao fato, ao afirmar que o padre ficou submerso nas águas do Rio Tietê, “coisa de meia hora”. Essa imponente cachoeira no leito do Rio Tietê está localizada nos fundos da atual em presa Lanxess, descendo o rio a partir do velho Porto de Araritaguaba e representa um belo capítulo da história brasileira.
Não podemos afirmar se o chamado “Milagre de Anchieta” decorrente do seu naufrágio na Aldeia de Maniçoba – hoje a cidade de Porto Feliz – é apenas uma lenda ou é verdadeiro. Não se olvide, todavia, que tal episódio é considerado e narrado por diversos estudiosos da história do Brasil. Inegável é, no entanto, que as minúcias desse acontecimento como a de tantos outros ficarão eternamente mergulhadas nas águas e gravadas nas pedras da Cachoeira de Abarémanduaba, como mais um dos inúmeros mistérios que envolvem o legendário Rio Tietê e a memorável história de Porto Feliz!
Salve Terra das Monções / Tua gente varonil / Honrará tuas tradições / E a grandeza do Brasil!
Reinaldo Crocco Júnior é advogado, escritor, pesquisador e colaborador da TRIBUNA
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