O Combate à Varíola na Vila de Porto Feliz
- tribunaporto
- 24 de fev.
- 3 min de leitura

A varíola é uma doença infecciosa grave causada pelo vírus Orthopoxvirus e já considerada erradicada pela Organização Mundial da Saúde, desde os anos 1980. Importante considerar, todavia, que essa enfermidade atravessou os séculos XVIII e XIX, ressaltando que entre os anos de 1834 e 1835 fez inúmeras vítimas em nosso país assolando tristemente as cidades brasileiras.
A literatura médica registra que as primeiras vacinas contra a temível moléstia chegaram ao Brasil no início dos anos 1800, importadas da Inglaterra. Em 1811 foi criada a Junta da Instituição Vacínica na cidade do Rio de Janeiro, com a finalidade de implementar diversas ações para o controle da doença, entre elas a promulgação, em 1832, da lei que tornava obrigatória a vacinação das crianças.
Inobstante os esforços das autoridades, a doença ainda continuou fazendo vítimas, sendo responsável por um número substancial de mortes. O tratamento da varíola era feito por meio do pus vacínico, material retirado das pústulas de pessoas infectadas pela varíola e utilizado para inocular a vacina antivariólica em pessoas saudáveis através de arranhões ou perfurações. Essa vacina foi descoberta no século XVIII pelo cientista Edward Jenner e, no Brasil, o Instituto Vacínico do Império tinha a responsabilidade de estudar, praticar, melhorar e propagar a vacina.
Para trazer a vacina de Lisboa para o Brasil, o pus vacínico era retirado ainda em alto mar, a fim de que pudesse chegar “fresco” ao nosso país. Na primeira metade do século dezenove, empenhada na luta contra a temível doença, a Câmara de Vereadores da Vila de Porto Feliz envidou esforços junto ao Vice-Presidente da Província de São Paulo para proteger seus cidadãos. Todavia e de acordo com um ofício enviado àquela autoridade imperial no dia 13 de outubro de 1835, a Edilidade local confirmou o recebimento de duas lâminas de pus vacínico que não prosperaram, razão pela qual solicitava a remessa de outras lâminas para o necessário combate à doença.
Eis o teor do histórico ofício, respeitada a ortografia da época: “Illustríssimo e Excelentíssimo Senhor – A Camara Municipal da Villa de Porto Feliz acusa a recepção do Officio de Vossa Excelencia de 26 d’Agosto próximo passado accompanhado de duas laminas de puz vacinico, as quais não tendo prosperado, a Camara supllica por outras, a ver se obtem melhor resultado. Deus Guarde a Vossa Excelência. Vila de Porto Feliz em Sessão Ordinaria da Camara aos 13 de Outubro de 1835. Ao Illustrissimo e Excelentíssimo Senhor Vice Prezidente d’esta Provincia. Vereadores José Gomes da Silva, Francisco de Oliveira Leite Setubal, Antonio Correa de Moraes, Francisco Antonio de Moraes Almeida, Mathias Teixeira da Silva, Mathias Teixeira de Almeida, Manoel Ferreira Peixoto”.
Vale ressaltar em respeito ao memorável passado da nossa terra, que dos sete vereadores que assinaram o histórico ofício enviado ao Vice- -Presidente da Província de São Paulo, três eram membros ativos do Quadro de Obreiros da Loja Maçônica Intelligência, a saber: José Gomes da Silva (Catão D’Utica); Francisco Antonio de Moraes (Platão) e Mathias Teixeira de Almeida (Aristides). Esta crônica é uma homenagem de reconhecimento e gratidão para com os nossos valorosos antepassados.
Salve Terra das Monções / Tua gente varonil / Honrará tuas tradições / E a grandeza do Brasil!
Reinaldo Crocco Júnior é advogado, escritor, pesquisador e colaborador da TRIBUNA
Comentários