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O Bandeirante de Araritaguaba

Crédito: Alexandre Souza

A foto que ilustra esta matéria mostra como era a figura de um bandeirante/monçoeiro que entre os séculos XVIII e XIX compunha as famosas expedições que partiam do Porto de Araritaguaba – hoje Porto Feliz -, rumo aos sertões inóspitos do Brasil Central. Após a Guerra dos Emboabas os paulistas, impossibilitados de explorar o ouro de Minas Gerais, passaram a buscar novas zonas de mineração descobrindo-as nos atuais Estados de Mato Grosso e Goiás.


Em 1719 a bandeira de Pascoal Moreira Cabral Leme, subindo o rio Cuiabá à caça de índios, encontrou ouro nas margens do rio Coxipó-Mirim e, em 1725, a bandeira de Bartolomeu Bueno da Silva descobriu ouro em Goiás. A descoberta de ouro na região marcou o início das monções, expedições fluviais regulares que faziam a comunicação entre São Paulo e Cuiabá.


A palavra monção era usada pelos portugueses para denominar os ventos periódicos que ocorriam na costa da Ásia Meridional. Esses ventos, que durante seis meses sopram do continente para o Oceano Índico e nos seis meses seguintes em sentido contrário, determinavam a saída das expedições marítimas de Lisboa para o Oriente. Na Colônia, as expedições que utilizavam as vias fluviais foram chamadas de monções, não por causa dos ventos, mas por se submeterem ao regime dos rios, partindo sempre na época das cheias (março e abril), quando os rios eram facilmente navegáveis, tornando a viagem menos difícil e arriscada.


As monções partiam da atual cidade de Porto Feliz, às margens do rio Tietê, levando em média cinco meses até alcançar as minas de Cuiabá. No início as monções transportavam paulistas para as minas cuiabanas, mas logo tornaram-se expedições de abastecimento, isto é, bandeiras de comércio, levando mercadorias para as zonas mineradoras. A população das minas tinha que adquirir tudo que precisava para manter-se, pois só estava interessada em achar ouro e enriquecer rapidamente.


De acordo com o Capitão General Antônio Manuel de Melo e Castro de Mendonça, os gêneros alimentícios mais transportados de Porto Feliz para Cuiabá eram: sal, farinha de mandioca, feijão, farinha de trigo e marmelada. Também eram transportados produtos como ferro, aço, chapas de cobre, cera do reino, chumbo, vinho, aguardente do reino, aguardente da terra, azeite doce, vinagre, machados, enxadas, foices, pregos sortidos, cravos de ferrar, alavancas, panos de algodão, louças e pólvora. De Mato Grosso, só poderiam chegar à Vila de Porto Feliz artigos preciosos, primeiramente o ouro, mas também vinham a poaia, a salsaparrilha e alguns medicamentos da farmácia caseira comuns naquela época. Via de regra vinham, também, alguns escravos.


A viagem era difícil devido às inúmeras corredeiras, febres, insetos venenosos, piranhas e, principalmente, ataques de índios. As canoas eram construídas à maneira indígena, cavadas em um só tronco e muito rasas. As maiores chegavam a transportar até 300 arrobas de carga, e com o tempo receberam toldos para evitar que as provisões se estragassem. Essas canoas eram fabricadas na Vila de Porto Feliz, às margens do Rio Tietê, em locais apropriados denominados Capoava. Esses locais (Capoava) eram, na verdade, barracões cobertos destinados não apenas à fabricação, como também ao abrigo das embarcações.


A tripulação era formada pelo piloto, pelo proeiro e por cinco ou seis remadores que remavam em pé como os índios. A carga ficava no centro da canoa, os tripulantes na proa e os passageiros na popa. Navegavam entre 8 horas da manhã e 5 da tarde, quando embicavam as canoas nos barrancos dos rios, armando acampamentos. Alimentavam-se de feijão, farinha de mandioca ou de milho e recorriam à pesca, aos palmitos, frutos e caça. Com o tempo, por medida de segurança, as viagens passaram a ser feitas em grandes comboios.


O número de canoas e pessoas num comboio variava, mas sabe-se que um dos maiores, o do governador de São Paulo D. Rodrigo César de Menezes, partiu de Porto Feliz em 1726 com mais de 300 canoas e cerca de 3.000 pessoas. Graças à coragem dos bandeirantes/ monçoeiros, desbravadores de sertões plantadores de cidades, o Brasil é o maior país da América do Sul e tem uma das maiores dimensões territoriais do mundo.


Foi um dia na história passada / Desta gente que alegre se diz / Bandeirantes que daqui partiram / Encheram de glórias o Porto Feliz!


Reinaldo Crocco Júnior é advogado, escritor, , pesquisador e colaborador da TRIBUNA

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