No dia 26 de outubro, sábado, Porto Feliz recebeu a montagem da peça Lugar Onde o Peixe Para. Escrita por Carlos ABC, a montagem esteve a cargo da Companhia Teatral Quem Sou Eu?, da vizinha cidade de Boituva.
Surgida em 2003, a Cia de Teatro Quem Sou Eu? reúne atores amadores de Boituva e tem por objetivo fomentar a arte do teatro com o desenvolvimento de pesquisas e estudos para a construção de espetáculos.
O elenco da peça Lugar Onde o Peixe Para é formado por Elton Pinheiro (direção e atuação), e pelos atores Jorge Silva, Jaqueline Oliveira, Leonardo Cândido, Marília Camargo, Myriã Desire, Naubert Roque, Samy Alves, Tânia Miraveti, Tiago Walter, Vinícius Gregorato e Virginia Camargo.
A apresentação ocorreu no teatro da Estação das Artes Dona Assunta Marchesoni Rogado e, apesar da entrada gratuita, o público porto-felicense não compareceu em grande número. Muitas cadeiras ficaram vazias, o que é lamentável, especialmente considerando a qualidade da montagem.
Mergulhado no universo caipira da região do Médio-Tietê, a peça traz os referencias da nossa cultura, além do delicioso sotaque com o qual estamos acostumados e que tanto bem faz aos nossos ouvidos cansa dos de escutar, especialmente pela televisão, as marcas fonéticas das pronúncias de outras regiões, sobretudo do Rio de Janeiro.
A presença do autor da peça, cultura raiz, tão massacrada pelo rolo-compressor da cultura de massa que se sobrepõe aos regionalismos. Portanto, a peça tem um diferencial a mais, pois reforça os laços de identidade e de pertencimento do povo para com a sua terra. o piracicabano Carlos ABC, enriqueceu ainda mais a noite cultural de Porto Feliz.
Ao final da peça os atores, o diretor e o autor conversaram com o público revelando os meandros por detrás da composição daquele espetáculo. Carlos ABC revelou que essa montagem foi das que mais o surpreendeu em termos de qualidade e cuidado para com o texto. O título da peça é uma homenagem à Piracicaba, pois traduzindo do tupi o nome da cidade significa “lugar onde o peixe para”.
Escrita em 1996, a peça continua atual e foi originalmente montada pelo grupo Andaime da Unimep (Piracicaba), tendo percorrido diversas cidades do Brasil.
Essa nova versão do grupo Quem sou eu? manteve o espírito de valorização da nossa cultura raiz, tão massacrada pelo rolo-compressor da cultura de massa que se sobrepõe aos regionalismos. Portanto, a peça tem um diferencial a mais, pois reforça os laços de identidade e de pertencimento do povo para com a sua terra.
Há quase vinte anos o cantor e compositor Renato Teixeira, célebre por sua composição Romaria, quando de sua apresentação em Porto Feliz, num palco montado defronte à Igreja Matriz, causou desconforto e alvoroço ao dizer que somos caipiras.
Naquele momento, as palavras de Renato Teixeira soaram como um xingamento. Isso porque não estamos acostumados a valorizar a nossa cultura raiz. Um dos poucos acertos das secretarias de cultura do Estado de São Paulo, nas diversas e contínuas gestões do PSDB, era o Mapa Cultural Paulista.
Nessa oportunidade, a arte e a cultura das cidades do interior, em suas mais diversas e múltiplas linguagens, eram “reveladas” e se tornavam conhecidas. Essa ação enriquecia a produção cultural e artística, sobretudo do interior. A apresentação de Lugar Onde o Peixe Para fez recordar esses tempos passados. Além disso, deu esperança de que ainda há muita coisa boa sendo realizada nas nossas cidades paulistas.
Carlos Carvalho Cavalheiro é professor, mestre em educação, escritor, pesquisador e colaborador da TRIBUNA
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