top of page

Carlos Miranda, o Eterno Vigilante Rodoviário

  • tribunaporto
  • 25 de fev.
  • 3 min de leitura
ree

Quando a série de TV brasileira Vigilante Rodoviário foi lançada, eu não era nascido. Mas meus pais e irmãs assistiram e por longos anos eu fiquei interessado em conhecer as aventuras do vigilante Carlos, um policial rodoviário do Estado de São Paulo e que sempre estava metido em alguma aventura, capturando algum traficante, um assassino ou mesmo um chefão do crime. Acompanhado de seu cão Lobo, o vigilante Carlos sempre acabava vencendo os bandidos.


Era um tempo em que o Brasil começava a acreditar em si mesmo. Um tempo de otimismo e de esperança, em que todo brasileiro acreditava no sucesso de seu país. Tempos de Juscelino e seu plano de desenvolvimento econômico, tempos das primeiras Copas do Mundo em que o Brasil se sagrou campeão (1958 e 1962), tempos da Bossa Nova como música brasileira exportada para o resto do mundo, tempos em que Maria Esther Bueno tronou-se a 1ª tenista no ranking mundial de acordo com a Federação Internacional de Tênis. Tempos em que os brasileiros assistiam pela TV um seriado nacional: “O vigilante rodoviário”.


A primeira exibição da série ocorreu em 1961. O personagem foi criado pelo diretor Ary Fernandes, que chegou a produzir outra série de TV chamada Águias de Fogo, essa com pilotos da Aeronáutica. Fernandes desejava um herói totalmente nacional quando criou o personagem Carlos, o vigilante rodoviário.


A música de abertura da série transpôs o tempo: “De noite ou de dia / firme no volante / vai pela rodovia / bravo vigilante / Guardando toda estrada, / forte e vigilante, / é o nosso camarada / bravo vigilante! / O seu olhar amigo, / é um farol que avisa do perigo, / audaz e temerário, / pra agir a todo instante, / da estrada é o Vigilante, / Vigilante Rodoviário!”. Essa “Canção do Vigilante” foi composta pelo próprio Ary Fernandes. Isso demonstra o quanto ele apostava no sucesso da série.


E, de fato, o seriado foi reprisado por diversos canais de TV. Nas aventuras do Vigilante, participaram alguns atores iniciantes ou artistas consagrados já na época, como Juca Chaves, Rosamaria Murtinho, Tony Campello, Stênio Garcia. Algumas das estradas do interior paulista e de cidades próximas a São Paulo foram mostradas nos diversos episódios do seriado.


Algumas ainda guardam alguma semelhança com o seu traçado atual ou com a geografia de seu entorno. Grande parte das filmagens, incluindo as da abertura, foi realizada na rodovia Anchieta, próximo ao quilômetro 58. Em alguns episódios, o vigilante Carlos aparecia conduzindo uma motocicleta Harley Davidson. Mas ele ficou célebre pelo automóvel Simca-Chambord. Esse automóvel customizado como o dos vigilantes da série acompanhou Carlos Miranda nos últimos anos, especialmente em exposições de carros antigos e em outros eventos.


O ator alcançou grande fama ao interpretar o protagonista da série O Vigilante Rodoviário, que foi transmitida pela TV Tupi entre 1962 e 1963 e, posteriormente, reprisada pela Globo em 1972.


Eu tive o prazer e a honra de encontrar-me com ele por duas vezes: uma em Águas de São Pedro e outra em Itanhaém. Ambas as oportunidades ocorreram em exposições de carros antigos.


Após o término da série na TV, Carlos Miranda prestou concurso para ingressar na Polícia Rodoviária de São Paulo. Tornou-se tenente-coronel da corporação e foi reformado (aposentado) em fins dos anos 1990. Dizem que ele entrou para o Guiness Book of Records como o primeiro ator a se tornar seu próprio personagem na vida real. Isso porque, ao se tornar policial rodoviário, e tendo o mesmo nome de seu personagem (Carlos), o ator assumiu na vida real o papel que lhe rendeu a fama na televisão.


Carlos Miranda faleceu no último dia 17 de fevereiro, segunda-feira, em São João da Boa Vista, no interior paulista onde residia. Seu corpo foi velado na Assembleia Legislativa de São Paulo e sepultado no mausoléu da Polícia Militar do Estado, no Cemitério do Araçá, na capital paulista.


Carlos Miranda será eternamente o brasileiro que alimentou a nossa autoestima ao nos apresentar um herói genuinamente nacional: o vigilante rodoviário.


Carlos Carvalho Cavalheiro é professor, mestre em educação, escritor, pesquisador e colaborador da TRIBUNA

Comentários


bottom of page