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Associação Monte Carmelo e a Fé Bahá’í

  • tribunaporto
  • 23 de fev.
  • 3 min de leitura

A Associação Monte Carmelo, localizada em Porto Feliz, realiza um trabalho de grande relevância na área da educação, com foco no estudo, na reflexão e na prática de virtudes e valores humanos, direcionados ao desenvolvimento integral de crianças e adolescentes. Desde agosto de 1989, a instituição atende centenas de jovens em um sítio próprio, durante o contraturno escolar, contribuindo para a formação complementar e o reforço dos estudos. Seu trabalho é reconhecido por promover uma educação que vai além do ensino convencional, integrando aspectos éticos, morais e práticos.


O que muitos desconhecem, no entanto, é que a Associação Monte Carmelo está fundamentada nos princípios da Fé Bahá’í, uma religião monoteísta de origem abraâmica que prega a unidade espiritual da humanidade. De acordo com a Wikipedia, a Fé Bahá’í, também conhecida como bahaísmo, “enfatiza a união espiritual de toda a humanidade”. Durante a ditadura civil-militar no Brasil, em 1984, um documento do Serviço Nacional de Informações (SNI) monitorou as atividades da Fé Bahá’í no País. O relatório descrevia a educação promovida pela religião como voltada para o “aprimoramento material do homem, através do ensino convencional, aulas teóricas e práticas de técnicas agrícolas e prendas domésticas”. Além disso, destacava que a Fé Bahá’í, fundada por Bahá’u’lláh (1817- 1892), busca estabelecer uma comunidade mundial unida, onde todas as nações, raças, crenças e classes coexistem harmoniosamente, como “gotas de um mesmo oceano, folhas de uma mesma árvore”.


Na época do relatório, a Comunidade Bahá’í no Pará contava com 3.000 membros, distribuídos em municípios como Marituba, Santa Izabel do Pará, Castanhal, Bragança, Santarém, Soure, Salvaterra, Breves e Portel. Outras comunidades estavam surgindo em diversos Estados, como São Paulo. Porto Feliz também aparecia na lista de Assembleias Espirituais Locais, sendo uma das 91 comunidades bahá’ís no Brasil. A meta da época era expandir para 120 comunidades, conforme comunicado de Osmar Mendes, secretário nacional da Fé Bahá’í, que incentivou os adeptos a iniciarem atividades educativas para crianças em comunidades próximas.


A Fé Bahá’í chegou ao Brasil em 1921, trazida pela estadunidense Leonora Armstrong, e ganhou mais adeptos na década de 1950. Em Porto Feliz, um casal de bahá’ís doou um sítio para a criação da uma unidade educativa, concretizando o sonho de promover a educação integral e oferecer melhores oportunidades para crianças e adolescentes da região. Em 17 de agosto de 1989 surgia a Associação Monte Carmelo.


No entanto, nem sempre a iniciativa foi bem recebida. Moisés de Oliveira, ex-administrador da associação, relatou em uma reportagem da revista Carta Capital que a instituição enfrentou resistência, incluindo a suspensão de recursos como o ônibus e a merenda escolar por intervenção de um padre local, que via a Fé Bahá’í com desconfiança. A situação só foi revertida após protestos das mães dos alunos durante um desfile de 7 de Setembro.


A Associação Monte Carmelo é um exemplo de como princípios religiosos podem ser transformados em ações concretas para o bem-estar social. Baseada nos valores da Fé Bahá’í, a instituição promove uma educação que vai além do ensino tradicional, focando no desenvolvimento humano integral e na construção de um futuro melhor para as novas gerações. Apesar dos desafios enfrentados ao longo dos anos, a Associação mantém seu compromisso com a comunidade de Porto Feliz, demonstrando que a união e a dedicação podem superar preconceitos e dificuldades, inspirando mudanças positivas na sociedade.


Carlos Carvalho Cavalheiro é professor, mestre em educação, escritor, pesquisador e colaborador da TRIBUNA

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