Feminicídios aumentam em todo o Estado; armas de fogo estão sendo mais usadas contra as vítimas
Depois de dois meses de ameaça e perseguições, o homem de 47 anos cumpriu as promessas. Matou a ex-companheira a tiros e suicidou-se. O crime ocorrido em Vila Manduquinha no início da noite da sexta-feira 16 ganhou repercussão nacional e provocou uma onda de boletins de ocorrência. Várias mulheres procuraram a Polícia Civil nesta semana para registrar ameaças e pedir as medidas de proteção previstas na Lei Maria da Penha. Um homem estava preso na Delegacia, na manhã desta sexta-feira 23, por uma ocorrência que não pôde ser divulgada.
Tiros
O crime foi testemunhado por vizinhos de Daniela Martins da Silva, de 43 anos. O ex-companheiro dela, Élcio Eduardo Machado (47 anos) escondeu- -se nas proximidades da casa da vítima. Quando Daniela chegou do trabalho por volta das 18h30, antes que pudesse entrar em casa, foi atacada.
O delegado de Polícia Civil titular de Porto Feliz, Raony de Brito Barbedo, está investigando para entender a dinâmica do crime. Ele acompanhou as necrópsias no Instituto Médico-legal de Sorocaba. O corpo de Élcio apresentava três ferimentos à bala.
A hipótese averiguada pela Polícia Civil é de que Daniela lutou com o agressor e, durante a luta, a arma teria disparado e acertado Élcio no rosto. De qualquer forma, ambos ficaram mortalmente feridos e sobreviveram por pouco tempo depois de serem socorridos. O caso foi registrado inicialmente com feminicídio seguido de suicídio.
Ameaças
O casal teve um relacionamento que durou cerca de quatro anos. Há dois meses, Daniela decidiu colocar fim à relação e Élcio passou a persegui-la e ameaçá-la. No último mês de julho, a vítima procurou a Polícia Civil para denunciar o seu algoz.
Daniela disse que Élcio seguia a van com a qual ela ia e voltava do trabalho. Numa das ocasiões, o motorista da van parou uma equipe da Guarda Civil Municipal para pedir ajuda. Os GCMs abordaram Élcio.
Ao prestar queixa, Daniela desabafou: “Fico trancada dentro de casa, não posso sair mais”. O Judiciário concedeu à vítima medidas protetivas contra o ex-companheiro. Entre outras coisas, ele foi proibido de aproximar-se da vítima. A ordem não salvou a vida da trabalhadora.
Sem porte
A Polícia Civil também está investigando a origem da arma usada no crime, um revólver calibre 38. Élcio, que não tinha porte de arma, teria usado este revólver para ameaçar Daniela anteriormente.
O caso teve ampla repercussão nacional. Vários órgãos de imprensa lembraram as duas ocorrências anteriores: a morte de Débora Cristina de Moraes (30 anos) e de sua filha Ketlyn (treze anos) pelas mãos de Wilas Martins dos Santos, que depois cometeu suicídio; e a tentativa de feminicídio ocorrida no último dia 14. Após esfaquear cinco vezes a ex-namorada, Renes Marçal de Oliveira (53) também cometeu suicídio.
Infelizmente, Porto Feliz está longe de ser um caso isolado. A vizinha Boituva registrou dois feminicídios recentes e em Tatuí, o caso chocante do irmão que matou a irmã também teve repercussão nacional (leia a seguir).
Nas últimas semanas, outras três mulheres perderam a vida em cidades vizinhas
Em Boituva no último fim de semana, uma jovem foi executada com cinco tiros pelo ex-namorado. Nayara Fonseca dos Santos (27 anos) dirigia seu veículo na madrugada do sábado 17 quando foi interceptada pelo ex, Alan Douglas Ferreira do Nascimento.
Usando uma pistola 9 milímetros, ele fez cinco disparos através da porta do veículo. Nayara morreu na hora. A GCM de Boituva localizou o feminicida quando ele tentava fugir pela rodovia Presidente Castello Branco. Ele foi detido, autuado em flagrante e preso.
Alan tinha registro da arma como CAC (Colecionamento, Atirador Desportivo e Caça). Em meados de julho, outra mulher foi morta em Boituva.
O corpo de Cíntia Fernanda Pinto (38 anos) foi encontrado num matagal às margens da rodovia Vicente Palma (SP-129). Ela foi amordaçada, teve pés e mãos amarrados e foi morta a pauladas. A família havia perdido contato com a vítima cinco dias antes de o corpo ser encontrado. O caso continua sendo investigado.
Em Tatuí, a Polícia Civil esclareceu a morte da manicure Andreza Schitini (35 anos). Seu corpo foi encontrado no quintal da casa onde ela morava com a mãe, dois filhos e o irmão. Andreza foi morta pelo próprio irmão, Edinilson Aparecido Lima (48 anos). A vítima desapareceu no dia 7 e seu corpo foi encontrado no dia seguinte, enterrado no quintal.
As investigações apontaram para Edninilson, que foi preso nesta quarta-feira (21). Ele confessou o crime e disse ter matado a irmã durante uma briga “por motivos financeiros”. O caso foi registrado como feminicídio, destruição e subtração ou ocultação de cadáver.
Os casos de feminicídio estão crescendo no Estado de São Paulo. De acordo com o Instituto Sou da Paz, no primeiro semestre deste ano ocorreram 124 homicídios em decorrência do gênero da vítima, contra 114 mortes no mesmo período do ano passado.
O estudo do Sou da Paz também destaca que o número de feminicídios cometidos com armas de fogo praticamente dobrou no primeiro semestre de 2024 em comparação com o ano passado. Foram 27 mortes neste ano, contra 14 no primeiro semestre de 2023 — um aumento de mais de 90%.
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