A Santa Casa de Porto Feliz ainda continua sendo referência em saúde na cidade de Porto Feliz. Essa instituição completou em 31 de março os seus 117 anos de existência. Não é pouca coisa. Fundada no ano de 1907, de acordo com o historiador Francisco Nardy Filho, por um grupo de pessoas que pertenciam à elite da cidade, a Santa Casa foi uma conquista que deu à cidade a condição de cuidar de seus doentes.
A Santa Casa foi instalada um ano depois, em 12 de Julho de 1908, conforme conta o nosso amigo Reinaldo Crocco Júnior, em cujo livro Intelligencia – A Loja Mãe da Maçonaria Paulista, transcreve a ata de instalação em que constam assinaturas e citações de nomes como José Esmédio Paes de Almeida (o coronel Esmédio), o dr. Draco de Albuquerque, o professor Roque Plínio de Carvalho, Tristão Pires de Almeida, Luiz de Carvalho Filho entre tantos outros.
Pertenciam à elite política e intelectual de Porto Feliz à época. Outro fato registrado pelo dr. Crocco Júnior é que o primeiro prédio onde foi instalada a Santa Casa foi a chamada Casa da Maçonaria, por abrigar no passado essa instituição, e que estava localizada no Largo São Benedito “com as seguintes características: divide pela frente com a rua Municipal até onde se estende um terreno pertencente ao prédio doado, aos fundos com uma rua feita pela Câmara Municipal em terreno pertencentes à Irmandade de São Benedito, a direita com terrenos da mesma Irmandade, e a esquerda com uma rua que partindo da rua Municipal acima mencionada, vai ter a sobredita rua que passa pelos fundos do prédio doado”.
Atualizando as informações, ainda recorrendo ao dr. Crocco, a rua Municipal é a atual rua Altino Arantes. E diz mais: “Toda a quadra compreendida entre a Rua Altino Arantes, Rua Joaquim Olavo de Carvalho, Avenida José Maurino (trecho já definido) e Praça Padre João Batista da Silveira (jardim de São Benedito), era propriedade da Loja Maçônica Araritaguaba e, anteriormente, pertenceu à Loja Inteligência — a mais antiga do Estado de São Paulo”.
Por ser uma casa — embora de grandes dimensões para uma residência — não era totalmente adequada para o funcionamento do Hospital. “Modesta, pequena, não dispondo de todo o conforto necessário para os pobres doentes, assim começou a funcionar a Santa Casa e assim se conservou por mais de trinta anos”, afirma Nardy Filho.
É importante, entretanto, destacar a mobilização que se deu para que a Santa Casa pudesse existir em nossa cidade. Uma nota jornalística do jornal sorocabano Cruzeiro do Sul demonstra o envolvimento da sociedade nessa mobilização. Em 16 de julho de 1907, o jornal estampou em sua primeira página:
“PORTO FELIZ - Deve extrahir-se a 28 a loteria beneficente da Santa Casa de Misericórdia desta cidade. Consta que o nosso distincto conterrâneo maestro André Rocha, pretende dar um concerto no theatro desta cidade, em benefício da Santa Casa de Misericórdia, por occasião da sua visita a esta cidade, no dia 15 de agosto do corrente anno”.
Em suma, a trajetória da Santa Casa de Porto Feliz é um testemunho vivo da dedicação e comprometimento de sua comunidade em prover cuidados de saúde desde o seu surgimento há 117 anos. Fundada por membros proeminentes da sociedade local, sua história se entrelaça com a própria história da cidade, refletindo os valores de solidariedade e generosidade que a impulsionaram desde o início. Mesmo diante de desafios e limitações estruturais iniciais, a instituição perseverou, sustentada pelo apoio incansável da população e por iniciativas como o concerto beneficente organizado pelo maestro André Rocha. A Santa Casa de Porto Feliz não é apenas um marco na história da saúde local, mas um símbolo de união e compaixão que continua a inspirar e servir à comunidade até os dias de hoje.
Carlos Carvalho Cavalheiro é professor, mestre em educação, escritor, pesquisador e colaborador da TRIBUNA
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