Confesso que o tema futebol não é frequente nas conversas e no cotidiano da minha família. A correria do dia a dia e a falta de interesse — e tempo — para acompanhar campeonatos e times são alguns dos motivos. Outro motivo, eu diria, é “cultural”: também não houve estímulo quando eu era criança.
Meu pai torcia para o Palmeiras e, ainda assim, poucas vezes eu o vi assistindo aos jogos. Ele gostava mais de acompanhar o automobilismo aos domingos, especialmente quando surgiu Ayrton Senna. Então, o futebol não fez parte da minha formação e, consequentemente, não faz parte da formação do meu filho.
Por isso, estranhei quando ele chegou com a notícia de que, no dia 2 de julho, haveria um jogo entre a Seleção Brasileira e a Colombiana pela Copa América. Ele ficou bravo quando eu comentei que a equipe adversária jogava melhor que a nossa. Meu filho torceu pela Seleção de uma maneira que eu não havia visto antes.
Há dois anos, durante a Copa do Mundo da FIFA, ele até se empolgou com o álbum de figurinhas — como toda a molecada — e assistiu aos jogos. Mas, sem aquele entusiasmo de torcedor.
Isso ficou nítido quando o Brasil jogou contra o Uruguai nas quartas de final, no dia 6 de julho. Estávamos viajando de férias, mas ele fez questão de assistir ao jogo e saiu decepcionado e entristecido pelo resultado dos pênaltis. Tudo bem que a decepção durou pouco. No dia seguinte, aparentemente, aquilo eram águas passadas.
Lembrei-me da minha profunda tristeza em ver a Seleção Brasileira de 1982, quando eu tinha quase a mesma idade do meu filho hoje, ser eliminada da Copa, no dia 5 de julho, pela Seleção da Itália. Odiei — hoje esse é um termo forte para mim e minha maturidade — Paolo Rossi, o centroavante italiano que fez os três gols contra o Brasil. Foi um jogo tenso em que o Brasil perdeu por um gol (Sócrates fez um, Falcão fez o segundo).
Fiquei muito triste, especialmente porque estava acompanhando os jogos desde o início e aquela Seleção era a melhor do mundo. Ao menos para mim. Waldir Peres como goleiro, Zico, Sócrates, Falcão, Oscar, Roberto Dinamite, Paulo Isidoro, Cerezzo, Júnior, Éder e tantos outros.
Mas essa decepção também se tornou uma lição para mim. Futebol não é tudo e a vida não é feita somente de vitórias. Nem sempre o melhor é o que vence e detalhes podem atrapalhar o resultado final daquilo que projetamos. A nação não é a Seleção de Futebol: esta apenas representa o país numa competição esportiva. Ganhar ou perder faz parte do jogo, e temos que aprender a lidar tanto com as vitórias quanto com as derrotas.
As batalhas vencidas não podem ser motivo para vaidade ou orgulho exacerbado. As derrotas não devem ser vistas como o fim de tudo, mas sim, como uma parte do processo. Enfim, aquela derrota amarga serviu para que aquele garoto de 10 anos amadurecesse em alguns aspectos. Espero que a derrota deste ano na Copa América sirva para meu filho como a lição que tive em 1982 e que me ajudou a enfrentar os desafios da vida. Enfim, futebol pode ensinar muitas coisas.
Carlos Carvalho Cavalheiro é professor, mestre em educação, escritor, pesquisador e colaborador da TRIBUNA
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