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A Magia da Velha Jardineira

  • tribunaporto
  • 17 de jun. de 2024
  • 3 min de leitura

A foto mostra um ônibus do tipo jardineira, daqueles que na década de 1950 faziam o transporte coletivo dos moradores das antigas propriedades agrícolas, para o centro urbano da nossa cidade.


Naquela época a Fábrica de Tecidos Nossa Senhora Mãe dos Homens e, principalmente a Usina de Açúcar de Porto Feliz, estavam no auge das suas respectivas atividades e, na condição de únicas indústrias existentes no município, empregavam milhares de trabalhadores além de contribuírem generosa mente com a Santa Casa de Misericórdia e outras instituições locais. Era, na verdade, um tempo de paz sedimentado na magia da vida simples do interior, completamente alheia às maldades que preponderam nos dias atuais.


As propriedades rurais que compunham o complexo industrial da Usina de Açúcar tais como as Fazendas Capoava, Conceição, Vila Nova, Sete Fogões, Sobradinho, Morro Vermelho, Boa Vista, entre outras, eram verdadeiros núcleos populacionais ou pequenas cidades, tamanha a força de trabalho concentrada em suas terras, especial mente no cultivo da cana de açúcar. Nesse tempo a velha jardineira era o único meio de transporte coletivo disponível para conduzir os moradores da zona rural, até à cidade.


Um dos mais concorridos pontos de chegada e partida dessas saudosas jardineiras, era um estabelecimento comercial conhecido como Bar do Bijo Bom e, posteriormente, como Bar do Caipira, situado na Praça Newton Prado, atual Praça Lauro Maurino, na confluência com a Rua Araritaguaba. A chegada da jardineira era um momento de festa! Em frente ao ponto de parada existiam dois compridos bancos de madeira pintados de verde e sem brilho por conta da ação inclemente do sol, normalmente utilizados pelos meninos engraxates que se concentravam no local, na expectativa de passar graxa em uma bota de cano longo habitualmente utilizada pelos passageiros, e que lhes rendia bom pagamento.


A magia desse momento, todavia, ia além! Tão logo estacionada a jardineira o primeiro a descer era o motorista, geralmente um sujeito “boa praça”, trajando calça, camisa e boné do tipo quepe, na cor cáqui, bem como uma gravata preta, além dos indispensáveis óculos escuros. Vinha com aquele sorriso aberto e um aceno de cumprimento para todos. Adentrava o bar, cumprimentava o proprietário, tomava um copo d’água, depois um café e, invariavelmente, comia um ovo cozido que, para atrair a atenção, a esposa do proprietário do bar preparava momentos antes da chegada da jardineira, com um detalhe curioso: os ovos eram todos coloridos de vermelho, azul, amarelo ou verde, acondicionados em uma bandeja e colocados estrategicamente à mostra em um pequeno balcão de vidro.


Enquanto o motorista tomava seu café e saboreava tranquilamente um ovo colorido, os passageiros desembarcavam e o cobra dor, personagem também importante da história, rapidamente se apoderava de uma vassoura estrategicamente guardada dentro da jardineira e fazia a varrição preparando o veículo para recepcionar novos passageiros. Depois disso, e sob o olhar atento do motorista que tomava café e saboreava o ovo, o cobrador fazia as manobras necessárias para melhor estacionar o veículo, deixando-o em plenas condições para iniciar nova viagem. Enquanto isso ocorria o motorista, recostado no balcão, fazia comentários elogiosos ao cobrador dizendo, orgulhosamente: “É interessado no serviço. No ano que vem, com certeza, já será motorista!”.


Depois de bem estacionar a jardineira, lá vinha o cobrador, também com uni forme cáqui e óculos escuros como o motorista, saudando a todos e recostando-se no balcão para tomar água, café e degustar um ovo colorido. Ato contínuo, e assim que embarcados os novos passageiros, o motorista reassumia seu posto e o cobrador, imediatamente, apoderava-se da manivela e executava a manobra para acionar o motor da jardineira e iniciar a nova viagem.


Velhos e mágicos tempos de tão belos dias, quando o zelo no trabalho era condição reconhecida para o sucesso na atividade profissional! Época encantadora e pródiga em bons exemplos, por mais humildes que fossem, assim como aqueles demonstrados no amor à profissão pelo motorista e pelo cobrador de uma jardineira. Esses exemplos serviram como lição inesquecível de vida para os meninos engraxates daquele tempo e que hoje são cidadãos de bem.


Salve Terra das Monções / Tua gente varonil / Honrará tuas tradições / E a grandeza do Brasil!

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