A foto que ilustra esta matéria mostra o Engenho Central de Porto Feliz, um dos mais antigos do Brasil. Os registros históricos atestam que decorridos quase dez anos da inauguração do Engenho e para colaborar na solução da crise de fornecimento da cana de açúcar, o governo brasileiro recorreu às experiências até então já utilizadas na cafeicultura, quais sejam: os Núcleos Coloniais.
Assim, nas zonas açucareiras de Porto Feliz e Lorena, onde também foi fundada uma colônia para atender às necessidades de um Engenho Central, os núcleos coloniais oficiais puderam atrair e fixar trabalhadores, que se transformariam em pequenos proprietários e assegurariam safras fixas de cana aos respectivos Engenhos Centrais. Nessa época, a Sociedade Central de Imigração e outros interessados na transferência de mão de obra para o Brasil, desenvolviam uma intensa propaganda em toda Europa. Na Bélgica surgiram muitos candidatos, entre eles o padre Jean Baptiste Van Esse, atraído pela possibilidade dos lucros que certamente proporcionariam a formação de uma colônia belga no chamado “Novo Mundo”.
Para a instalação do núcleo colonial em Porto Feliz, o governo brasileiro havia adquirido algumas propriedades nas imediações da cidade. Eram as terras compreendendo os sítios Grande e Marinônio, bem como duas chácaras unidas. Nessa altura dos acontecimentos o padre Van Esse já havia conversado com o Ministro da Agricultura brasileiro, na ocasião Rodrigo Silva, ao qual fora apresentado na cidade do Rio de Janeiro pelo Ministro Belga Edouard de Grelle.
Esses dois homens públicos trouxeram o padre belga para conhecer as terras de Porto Feliz e ele entusiasmou-se com a fertilidade do terreno, considerado próprio para o cultivo de cana, cereais, café e tabaco. Depois da visita, o padre Van Esse escreveu à Diretoria da Sociedade Central de Imigração uma carta, datada de 13 de janeiro de 1888, dando pormenores do seu projeto, no qual seriam investidos 50.000 francos belgas.
Autorizado pelo Aviso nº 111, de 16 de novembro de 1887 do Ministério da Agricultura, o Inspetor Geral das Terras e Colonização assinou, já no dia seguinte, um minucioso contrato com o padre Van Esse. De acordo com o referido contrato, cinquenta famílias, dentre as quais quarenta e cinco necessariamente de agricultores, participariam da colônia a partir do início do mês de maio de 1888 até maio de 1889. Cada família tinha, obrigatoriamente, de trazer um capital mínimo de 1.000 francos, mais os utensílios domésticos e os implementos agrícolas. As despesas com o transporte dos colonos e de suas bagagens ficavam por conta do governo brasileiro.
As primeiras famílias belgas que chegaram a Porto Feliz, entre outras, foram: Libois, Dubois, Leroy, Boudart, Despontin e Dumont, todas elas com suas ramificações até hoje em nossa cidade! A vinda dos colonos belgas a Porto Feliz, no entanto, teria laços históricos mais antigos, diretamente relacionados ao Rei Leopoldo I, da Bélgica, que governou aquele país de 21 de julho de 1831 até sua morte ocorrida no ano de 1865. Diz a lenda que o Rei Leopoldo I teria um filho bastardo de nome Leopoldo Leroy nascido no ano de 1831, numa época em que havia grande conflito entre o Reino Belga e a Maçonaria Europeia.
Ainda de acordo com essa lenda e no decorrer do ano de 1836, a Maçonaria Europeia encontrou o filho bastardo do rei com cinco anos de idade e passou a cuidar daquela criança para que futuramente viesse a ocupar a coroa belga, como sucessor legal do monarca. Todavia ao tomar conhecimento de que Leopoldo Leroy, seu filho bastardo, estava sendo cuidado pela Maçonaria, o Rei Leopoldo I teria ordenado o sequestro e morte da criança.
Sabendo do grande risco que o menino Leopoldo Leroy corria; sabendo que no Brasil aquela criança teria o apoio do então jovem Imperador D. Pedro II; e sabendo, ainda, da visível ascensão da Loja Maçônica Intelligência – primeira do Estado de São Paulo –, a Maçonaria Belga trouxe o menino para a Vila de Porto Feliz por volta do ano de 1842, onde permaneceu sob os constantes cuidados dos maçons porto-felicenses.
Diz a história que a vinda do padre Van Esse à Vila de Porto Feliz para cuidar da colonização belga teria, antes e acima de tudo, a missão de encontrar o filho bastardo do Rei Leopoldo I. Tristemente, no entanto, descobriu-se que no decorrer do ano de 1859 Leopoldo Leroy, com apenas vinte e oito anos de idade, teria sido morto junto com a esposa e filhos. Não há registro do local onde teria acontecido esse horrendo crime, mas após o referido fato a relação entre Brasil e Bélgica teria ficado estremecida e somente voltaria a ser pacificada com a morte do Rei Leopoldo I, ocorrida em 10 de dezembro de 1865.
Verdadeiros ou não, os detalhes desse episódio coincidem muito com a vinda dos colonos belgas a Porto Feliz e com a própria história da Augusta e Respeitável Loja Intelligência. É sempre importante lembrar que as histórias desta cidade e da Loja Intelligência, são pródigas em relatos que bem demonstram suas respectivas importâncias no conceito da história paulista e brasileira. Realidades ou lendas a verdade é que, embora encobertos pelas noites dos tempos, esses relatos ressurgem nas pesquisas para desvendar mistérios e enaltecer as páginas históricas deste Porto Feliz, berço das Monções e da Maçonaria Paulista!
Salve Terra das Monções / Tua gente varonil / Honrará tuas tradições / E a grandeza do Brasil!
Reinaldo Crocco Júnior é advogado, escritor, pesquisador e colaborador da TRIBUNA
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