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Um Núcleo Agrícola em 1907


Durante o final do século XIX e início do XX fundaram-se no Brasil diversas colônias agrícolas. A política nacional, tanto no ocaso da monarquia quanto na aurora da República, entendia o destino da nação como uma grande produtora de matérias-primas e alimentos de origem vegetal. Ou seja, a sina do país era aproveitar o seu imenso espaço e fertilidade da terra — enaltecida por Pero Vaz de Caminha quando os primeiros portugueses pisaram oficialmente neste solo — e se tornar o “celeiro do mundo”.


Assim, na década de 1880, começam a surgir os colonos belgas que formarão a Colônia Rodrigo Silva em Porto Feliz. O jornal Diário de Sorocaba, de 1887, noticiou sobre a formação dessa Colônia:


Núcleo de Porto Feliz A Revista Commercial Diplomatica e Consular, de Bruxellas, publicou a 15 do passado um extenso artigo sobre a situação do regimen da projectada colônia belga, no município de Porto Feliz, d’esta província. Os colonos do projectado estabelecimento constituirão uma sociedade cooperativa sob a presidência do diretor, encarregando-se a sociedade adquirida os cereaes que os colonos produzirem, além das necessidades do seu consumo, bem como de fornecer-lhes gêneros alimentadores, gado, utensílios agrícolas e todos os artigos necessários à vida. Esta a ser preparada a primeira expedição de famílias belgas, que não devem, por emquanto, exceder de 50, sendo obrigada cada família a depositar, no acto da assignatura de contracto, a quantia de 1,000 francos, que lhe será restituída ao chegar a Porto Feliz, em dinheiro ou em gêneros.


 As colônias de europeus tinham dois objetivos: aproveitar a mão de obra excedente para produção agrícola, contribuindo para a economia do Brasil, e, também, aumentar o número de pessoas “brancas” no país. E os europeus foram chegando até o século XX, povoando as terras brasileiras, especialmente o Estado de São Paulo (capital e interior).


Em 1907, o governo do Estado de São Paulo pretendeu criar um núcleo agrícola, possivelmente de poloneses, nas fronteiras entre Sorocaba, Itu e Porto Feliz. O jornal Cruzeiro do Sul, de Sorocaba, na época noticiou o fato da seguinte maneira:


Novo núcleo colonial agrícola Cremos que muito brevemente iremos ter um novo núcleo colonial agrícola no nosso Estado, localizado, em parte, dentro do nosso município [Sorocaba], tendo para esse fim, chegado segunda-feira ultima a esta cidade, vindos da capital, por ordem do governo do Estado os drs. Alvaro Gonçalves Guimarães, Henrique P. Ribeiro, Carlos Augusto Xavier de Andrade e Theodoro Sarjusz Stokowsky, redactor do importante orgam polaco Dzrron Coloki, que vê a luz na capital do Estado. Esta commissão seguiu naquelle mesmo dia, a cavallo, com destino às importantes propriedades agrícolas Bom Retiro e Cajurú, pertencentes ao nosso amigo major Francisco Euphrasio de Paula Monteiro, afim de conhecer as terras em que pretende o governo fundar o novo núcleo colonial agrícola, que, estamos certos, será um dos mais importantes do Estado, em virtude das excellentes condicções em que se acham aquelles terrenos, garantindo um futuro por demais lisonjeiro aos povoadores daquella zona. Estas fazendas, situadas entre este município e os de Ytú e Porto-Feliz, virão, uma vez colonizados, beneficiar enormemente o movimento commercial destes logares e, convencidos como estamos dos elevados e patrióticos sentimentos do governo e do seu digníssimo auxiliar, o sr. dr. Secretário da Agricultura, não tardará muito para que este projecto se torne em realidade. Taes são os nossos ardentes votos, que devem ser os mesmos dos nossos municípios vizinhos (Cruzeiro do Sul, 21 mar 1907, p. 2).


Apesar de a publicação apelar para o sentimento “patriótico” do governo, sabe-se que o interesse maior estava em desenvolver a economia agrícola que fortalecia os governos dominados pelas elites rurais e seus coronéis.


Carlos Carvalho Cavalheiro é professor, mestre em educação, escritor, pesquisador e colaborador da TRIBUNA



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