A produção de cachaça na cidade de Porto Feliz tem uma longa e rica história, refletindo o desenvolvimento e as tradições da região. Atualmente, a cachaça Porto Brasil se destaca como um dos principais produtos da cidade. Produzida no Alambique Porto Brasil, localizado na Fazenda São Jorge (Bom Retiro), a cachaça Porto Brasil é elaborada a partir do mosto do caldo de cana fermentado e destilada em alambiques de cobre. Esse rigoroso processo de produção assegura a alta qualidade do produto, consolidando sua reputação no mercado de cachaças artesanais.
Um marco histórico significativo para a cachaça de Porto Feliz foi a publicação no jornal Cruzeiro do Sul, de Sorocaba, em 3 de abril de 1919. Na página 3, uma propaganda anunciava: "No armazém de secos e molhados de João Caputi & C., à rua Cesário Motta, 24, tele fone 146, vende-se pinga em quintos do melhor fabricante de Porto Feliz, sr. Angelo Vianna, a 1$200 o litro. Completamente selado". Essa propaganda não só evidenciava a qualidade da cachaça local, mas também destacava a tradição de excelência na produção da bebida.
Desde os primórdios de seu povoamento, em fins do século XVII, Porto Feliz se dedicou à produção de cana-de-açúcar. A cidade fazia parte do chamado Quadrilátero do Açúcar no século XVIII, juntamente com as atuais cidades de Sorocaba, Piracicaba, Jundiaí e Mogi-Guaçu. Nesse período, tanto o açúcar quanto a cachaça ganharam importância na economia da capitania de São Paulo. Em 1878, Porto Feliz recebeu o Engenho Central, uma empresa que centralizava a produção regional de açúcar, similar ao Engenho Central de Piracicaba, fundado em 1881. Essa modernização da produção açucareira foi incentivada pela política imperial, promovendo o surgimento dos engenhos centrais.
Ao longo de sua história, Porto Feliz sempre teve destaque na produção de cachaças de qualidade, como a famosa cachaça de Angelo Vianna em 1919, considerada a melhor da cidade. Atual mente, a cachaça artesanal Porto Brasil é uma das principais representantes dessa tradição. A cidade foi selecionada para fazer parte da Rota Gastronômica das Regiões Turísticas do estado, destacando a produção artesanal da cachaça Porto Brasil, propriedade de Vinicius Thomazzetto.
Porto Feliz produziu também a primeira cachaça preta do mundo. Salvo engano, essa cachaça tinha essa coloração devido a um processo de envelhecimento em determinados barris. A marca tornou-se famosa e a “Cachaça Crioula” logo se converteu em um dos produtos mais cobiçados pelos que apreciam a bebida. Não muito longe de Porto Feliz, na cidade de Torre de Pedra, produz-se uma cachaça internacionalmente conhecida: a Wiba! Produzida por Wilson Barros (daí o nome da cachaça), essa marca ”inventa constantemente novas formas de consumo, gerando curiosidade e fazendo o consumidor descobrir e redescobrir o prazer de uma boa cachaça, seja o tradicional ou o que ainda não conheceu este sabor tipicamente brasileiro”. Seu alambique recebe visitas de turistas e apreciadores.
Segundo o site do Engenho Fazenda Velha, produtor da cachaça de mesmo nome na cidade de Nova Odessa, em São Paulo, “Em 1756, a aguar dente de cana-de-açúcar foi um dos gêneros que mais contribuíram com impostos voltados para a reconstrução de Lisboa, destruída no grande ter remoto de 1755. Devido ao seu baixo valor e associação às classes mais baixas (primeiro, os es cravos; e depois, os pobres e miseráveis), a cachaça sempre deteve uma aura marginal. Contudo, nas últimas décadas, seu reconhecimento internacional tem contribuído para diluir o índice de rejeição dos próprios brasileiros, alçando um status de bebida chique e requintada, merecedora dos mais exigentes paladares”.
Esses paladares “requintados” têm rendido divisas para diversas cidades e convertido os engenhos produtores em atração turística.
O incentivo à produção de cachaça artesanal pode aumentar ainda mais a visibilidade e a economia de Porto Feliz. A cachaça é a segunda bebida alcoólica mais consumida no Brasil, com um consumo per capita estimado em cerca de 7 litros por ano por brasileiro maior de 18 anos. A produção total de cachaça no Brasil é de aproximadamente 1,3 bilhão de litros por ano, sendo que cerca de 25% provém da fabricação artesanal. Isso demonstra o potencial econômico dessa atividade para a cidade, que já tem um histórico de excelência na produção de cachaças.
Porto Feliz, com sua rica história e tradição na produção de cachaça, pode se destacar ainda mais no cenário nacional e internacional com o devido incentivo e reconhecimento.
Carlos Carvalho Cavalheiro é professor, mestre em educação, escritor, pesquisador e colaborador da TRIBUNA
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