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Olimpíada Caipira

Foto: Reprodução
BOCHA. O antiquíssimo jogo seria uma modalidade importante para a Olimpíada Caipira

Segundo a Agência Nacional de notícias, no sábado (3 de agosto) o Brasil havia alcançado a 20ª Posição do ranking, com 10 medalhas, sendo apenas uma de ouro. Enquanto escrevo este texto, possivelmente, o Brasil conseguirá outras medalhas.


De qualquer forma, o resultado está abaixo do esperado ou da expectativa de quem torce pelo sucesso do esporte no Brasil. Infelizmente, o resultado das Olimpíadas já vem sendo usado como argumento para debates políticos. Nas redes sociais, crescem as críticas ao atual governo federal na mesma proporção em que é lembrada a extinção do Ministério dos Esportes, que foi incorporada ao Ministério da Cidadania, fato ocorrido em 2019 no governo anterior.


O atual governo tenta, nas páginas oficiais, enaltecer o programa Bolsa Atleta com números e estatísticas: 87% dos competidores brasileiros, medalhistas ou não, têm Bolsa Atleta; em seis modalidades 100% são Bolsistas da Categoria Pódio, a principal do Programa; os medalhistas brasileiros recebem a Bolsa Atleta entre outros.


Ainda assim, o resultado está muito aquém do que desejávamos. Isso reflete em nossa autoestima enquanto povo. Sem dúvida alguma, nos sentimos menorizados diante de países como a China com 21 medalhas de ouro ou os Estados Unidos com 19.


Pensando na melhoria de nossa autoestima, idealizei a realização de uma Olimpíada Caipira. Primeiramente, é importante salientar que por caipira entendo uma cultura interiorana que se desenvolveu desde os primórdios da chegada dos portugueses ao Brasil. Mesclando sua cultura com a dos indígenas e, posteriormente, com a dos africanos, moldou-se uma cultura própria paulista que se espalhou por outras regiões do Brasil por meio das andanças de bandeirantes, monçoeiros e tropeiros.


Assim, regiões como Goiás, Minas Gerais, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, parte do Rio de Janeiro, recebeu essa influência caipira. A princípio, esses Estados estariam aptos a participar do Jogos. Porém, essa Olimpíada seria aberta a quem quisesse participar, sem qualquer discriminação.


E quais seriam as modalidades? Ora, só poderiam ser aquelas em que a cultura caipira estaria familiarizada. Por exemplo: Torneio de Truco. Para quem não sabe, o truco é o pôquer caipira, o jogo de cartas de baralho mais difundido no interior paulista. E existem torneios mesmo de truco, com regras, juízes... Ou seja, não seria nada difícil incluir essa modalidade.


O jogo de bocha (ou bocce) seria outra modalidade importante para a Olimpíada Caipira. Jogo antiquíssimo, comum entre os italianos, a bocha é jogada por dois oponentes (jogadores ou times) e consiste no arremesso de bolas (bochas), dentro de um espaço chamado cancha, com o objetivo de se aproximar de uma bola menor chamada de bolim, a qual é previamente lançada na extensão da cancha. Em toda cidade do interior em que houve imigração italiana é possível encontrar as canchas de bocha.


Outro esporte que se utiliza de espaço semelhante ao da bocha é o jogo de malha. A Wikipédia diz que “O jogo da malha, chinquilho ou jogo do fito é um desporto em que se lançam discos de metal (ou pedras chatas, no caso do jogo do fito) em direção a um pino com a intenção de derrubá-lo e/ou deixar a malha (ou o fito) o mais próximo possível deste pino”. É como uma bocha sem bocha.


Outra modalidade possível seria a purrinha ou jogo de palitos. Nesse “esporte” os competidores usam palitos – ou outros objetos, como moedas – e tentam adivinhar quantos deles estão escondidos na mão do oponente. Creio que não poderia faltar um bom bilhar de boteco, esporte esse que já foi muito considerado décadas atrás quando o famoso Rui Chapéu era jogador praticamente invencível.


Faltaria um esporte de combate? Uma luta? Seria a capoeira? Ou, melhor, a briga de rua. Essa sim seria uma boa modalidade de competição, quase um vale-tudo em que a habilidade de quem luta nas ruas seria valorizada.


A Olimpíada Caipira teria esse condão de levantar a nossa autoestima e render algumas medalhas a mais de ouro. Atletas hábeis dessas modalidades estão disponíveis aos montes nos botecos de todas as cidades interioranas. Deve haver outras possíveis modalidades que esqueci de citar. Mas isso não seria um problema. Ao contrário, a Olimpíada Caipira teria expectativa de crescimento até se tornar um evento internacional. Daí... só medalhas de ouro para o Brasil. Desde que os atletas fossem do nosso interior.


Carlos Carvalho Cavalheiro é professor, mestre em educação, escritor, pesquisador e colaborador da TRIBUNA

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