Nesses quase 19 anos de trabalho como professor de História na EMEF Coronel Esmédio, tive a oportunidade de receber alguns estagiários. Na verdade, foram poucos, considerando o tempo de serviço prestado: uma média de um estágio a cada 4,5 anos. Sim, foram quatro estagiários, do que me lembro (talvez a memória me traia; peço desculpas antecipadamente por algum lapso): Débora Moraes Martinez Cipriano, Vitória Eduarda Prado de Paula, Carlos Eduardo Dantas e Jéssica de Pontes.
Sem exceção, foram todos comprometidos com o estágio e com a educação de uma forma geral. Cada qual chegou até mim por um motivo. A Débora, talvez, pelo fato de conhecer a escola e a direção. A Vitória por ter sido minha aluna nessa mesma escola. O Carlos Eduardo, segundo confessou, pelo fato de eu ter sido professor de suas filhas e por conhecer, então, meu trabalho. A Jéssica por conta de referências.
De todo modo, é um sentimento curioso que se desenvolve quando somos professores que acompanham o estágio de formação de futuros colegas. Desenvolve-se nessa relação um sentimento de amizade e de troca de experiências. Aprendi muito com todos os que fizeram estágio comigo.
Porém, nesta semana, quero falar de Jéssica de Pontes, a minha última estagiária. Infelizmente, um golpe do destino nos tirou a convivência dela: Jéssica faleceu neste sábado.
Obviamente, a notícia impactou-me muito. Ela assistiu as minhas aulas na quinta-feira, à tarde. Quando foi sábado à noite, recebi a triste notícia. Jovem sonhadora – e, mais, realizadora – Jéssica contou-me naquela quinta-feira, depois de eu ter perguntado a ela como estavam as coisas em relação à faculdade, que tudo se encaminhava bem. Já estava quase terminando o seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e o estágio no Ensino Fundamental estava em vias de terminar. Procurava uma referência de professor ou professora de História do Ensino Médio para cumprir essa fase do estágio.
Sempre prestativa, nesse pouco tempo que tivemos de convívio, Jéssica auxiliou diversas vezes, incluindo a ajuda com alunos que tinham alguma dificuldade, enquanto eu realizava o atendimento a outros estudantes. Pude observar o quanto a função de educadora fazia parte do seu jeito de ser. Era natural dela essa habilidade de ensinar, a paciência de ouvir e ajudar.
Reforço aqui que os outros que estagiaram comigo também tinham essa mesma habilidade. Estou evidenciando essas qualidades em Jéssica de Pontes como uma homenagem póstuma, a qual ela se fez merecedora.
Do que ela me contou, trabalhou na área de saúde, tendo migrado depois para a educação onde exercia a função de auxiliar de educação infantil em creche da Prefeitura Municipal de Porto Feliz. Havia encontrado o caminho e descoberto o seu dom. Jéssica era, de fato, uma educadora.
O trabalho com estagiários traz à tona um aspecto importante da profissão: a capacidade de impactar e ser impactado pelas novas gerações. Cada estagiário traz uma perspectiva fresca, novos desafios e oportunidades para reflexão. A interação com esses novos profissionais não só enriquece a prática pedagógica, mas também oferece uma visão renovada sobre a evolução da educação. Com Jéssica, senti especialmente essa dinâmica; ela estava em um ponto de transição significativa em sua carreira, buscando consolidar o conhecimento adquirido e aplicá-lo de forma prática. Essa fase de sua vida refletia um entusiasmo contagiante, que me fez refletir sobre a importância de apoiar e cultivar talentos em formação.
A existência humana é um mistério. Não sabemos nada, apenas conjecturamos a partir de ensinamentos religiosos ou filosofias de vida. Não sei o motivo pelo qual a sua vida foi interrompida tão cedo. Apenas lamento profundamente.
Carlos Carvalho Cavalheiro é professor, mestre em educação, escritor, pesquisador e colaborador da TRIBUNA
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