Pouco depois das oito horas da noite de um domingo, os policiais militares viram passar em alta velocidade uma caminhonete cinza. Era um Fiat Strada Freedom 2023. A guarnição foi ao encalço do veículo e abordou o motorista.
A abordagem ocorreu numa longa rua do Conjunto Habitacional Juscelino Kubitscheck de Oliveira em Guaianases, distrito da zona leste de São Paulo. Os PMs deram uma busca na caminhonete e não encontraram nada de ilegal. A documentação do veículo também estava em ordem.
Mas ao verificar os documentos do motorista, os policiais militares encontraram um mandado de prisão expedido pela... Comarca de Porto Feliz. Gildazio Leandro da Silva, um empreiteiro de 47 anos, era procurado por dois crimes, homicídio e homicídio tentado.
Perseguição
Em março de 2015, Gildazio perseguiu duas mulheres pela rodovia Dr. Antônio Pires de Almeida. Na altura do quilômetro 12, ele jogou seu carro contra o carro das vítimas.
A motorista perdeu o controle da direção e seu veículo, um Renault Sandero Expression prata, rolou por um precipício. O carro foi parar, destroçado, a cerca de vinte metros abaixo do nível da rodovia.
Duas vítimas
Aline da Silva Roque, de 24 anos, morreu no local. A passageira, Sheila de Oliveira Gonçalves sofreu ferimentos graves e conseguiu sobreviver. Ela tinha 27 anos.
Os policiais rodoviários que abordaram Gildazio logo após o acidente encontraram latas de cerveja no utilitário dirigido por ele, um Volkswagen Saveiro CE Cross. Ele admitiu aos rodoviários ter tomado “duas cervejas”. Parecia um acidente causado por um motorista embriagado.
Ataque
Sheila, porém, sobreviveu. Depois de recuperar a consciência no Hospital Regional de Sorocaba, ela pôde contar que aquilo não tinha sido um acidente. Tinha sido um ataque intencional.
À Polícia Civil e em depoimentos durante o processo, ela contou que teve um “relacionamento amoroso” com Gildazio. Ao descobrir que ele era casado e tinha filhos, decidiu romper a relação.
Não aceitou
Inconformado com a decisão, o homem passou a persegui-la. Seu objetivo era impedir que Sheila se relacionasse com outra pessoa. Na noite de 18 de março de 2015, Sheila e Aline foram a uma festa no Rancho Tony Caipira e Gildazio estava lá. Depois de alguns incidentes, as duas acharam melhor ir embora.
Na madrugada de 19 de março, uma quinta-feira, quando as duas mulheres voltavam para casa, Gildazio as seguiu e, na rodovia Dr. Antoninho, provocou o acidente que matou Aline e quase custou a vida de Shiela.
Júri
O caso foi julgado pelo Tribunal do Júri. Gildazio foi considerado culpado por homicídio e homicídio tentado com o agravante de o motivo estar relacionado ao gênero das vítimas — feminicídio, em resumo.
O juiz de Direito da 1ª Vara da Comarca de Porto Feliz, Diogo da Silva Castro, presidiu a sessão e, com base na decisão do Conselho de Sentença, condenou o réu a 16 anos e um mês de prisão em regime inicial fechado. Cerca de um mês depois da sentença, em agosto último, o mandado de prisão entrou no banco de dados do Governo do Estado.
Guaianases
Gildazio estava no extremo leste de São Paulo, a uns 150 quilômetros de distância do local do crime. Deu azar ao chamar a atenção de uma equipe da PM por excesso de velocidade numa tortuosa rua que margeia uma vasta área verde em Guaianases.
Foi autuado em flagrante e levado para uma unidade do sistema penitenciário do Estado, para aguardar a designação da penitenciária aonde iria iniciar o cumprimento de sua pena.
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