Os compêndios da história brasileira registram que viveu em Araritaguaba – hoje a cidade de Porto Feliz - um mestre monçoeiro chamado Manoel Portes Machado, dono de vasta plantação de milho, café e outros grãos, num local onde havia recebido sesmarias de terras no ano de 1781.
Manoel também era comerciante monçoeiro e, como tal, fazia o comércio de tecidos e outros produtos pois vivia de negócios entre Araritaguaba e o local onde cultivava suas roças, conhecido na época como Vale do Tietê. Manoel Portes Machado tinha a fama de preservar a ordem entre os monço eiros e a tripulação, pois era muito enérgico com os tripulantes das monções por ele dirigidas. Era um homem forte, irascível, e que já tinha se desentendi do seriamente com um remeiro de nome Apolinário.
Algum tempo se passou e certo dia, quando a monção de Manoel Portes Macha do retornava com destino ao Porto de Araritaguaba e estando ele conversando distraidamente com um de seus homens, foi atacado violentamente pelas costas por Apolinário, que lhe enfiou o facão, pegando-o de surpresa. Manoel, ao sentir que estava morrendo, gritou: “Meu Deus! Morro sem confissão! Vinde, Frei Galvão, assisti-me!”. Naquele momento o Frei Galvão estava celebrando a missa em uma igreja na capital da Província de São Paulo, quando se ajoelhou e pediu para que todos rezassem uma Ave Maria pela salvação da alma de alguém muito distante e que clamava por socorro divino.
Simultaneamente um dos monçoeiros avistou um franciscano que se aproximava do local e o identificou como sendo o Frei Galvão! O religioso colocou a cabeça de Manoel no colo e lhe falou em voz baixa, encostando os lábios no ouvido e abençoando-o. Levantou-se em seguida, fez um gesto de adeus e afastou-se desaparecendo misteriosamente.
Diz a história que, depois do ocorrido, o Frei Galvão retomou a celebração da missa na igreja em São Paulo. Por essa razão e confiando na ocorrência de um milagre, os monçoeiros colocaram um retrato do Frei Galvão na sepultura de Manoel Portes Machado e, de acordo com os historiadores, o local onde esse fato aconteceu passou a ser chamado de Potunduva, expressão que na língua tupi-guarani significa “lugar de mato rasteiro, onde o mulato matou o mestre monçoeiro”.
A monção de Manoel Portes Machado chegou algum tempo depois ao Porto de Araritaguaba sem o seu comandante, que fora sepultado às margens do Rio Tietê, na região chamada Potunduva, onde hoje existe a cidade de Jaú. Este é mais um fato que ganhou “status” de milagre e teria sido um dos fatores que contribuíram para a canonização do Frei Galvão, que é considerado o primeiro santo brasileiro pelos dogmas da Igreja Católica.
Salve Terra das Monções / Tua gente varonil / Honrará tuas tradições / E a grandeza do Brasil!
Reinaldo Crocco Júnior é advogado, escritor, pesquisador e colaborador da TRIBUNA
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