O último sábado acordou mais triste. Despedia-se para sempre a voz marcante do rádio porto-felicense: Décio Fernandes, o grande locutor da Rádio Emissora Porto-Felicense faleceu, aos 79 anos, na Cidade dos Velhinhos onde vivia nos últimos anos.
Nascido em 24 de outubro de 1944, na antiga Rua do Café, Décio não apenas se destacou como radia lista, mas se tornou uma verdadeira instituição da comunicação local, deixando uma marca indelével na história da cidade.
Filho de Isabel Fran cisca e Adolpho Fernandes de Camargo, Décio cresceu em um ambiente simples, onde a dedicação e o trabalho duro sempre estiveram presentes. Desde pequeno, ajudou o pai em seu depósito de lenha e vendia bananas pelas ruas, o que moldou seu caráter e seu amor pelo trabalho. Apesar de seus humildes começos, o garoto sonhava em se tornar padre, inspirado pelas procissões e pela figura do pároco que tanto admirava. No entanto, a vocação religiosa cedeu lugar a uma paixão que se revelaria mais forte: a comunicação.
Estudou, como muitos outros cidadãos porto-felicenses, na atual EMEF. Coronel Esmédio quando esta escola ainda ocupava o prédio do atual Museu Histórico. Aos 17 anos, Décio se inscreveu em um curso para locutores na Rádio Emissora Portofelicense (REP), onde, surpreendentemente, foi um dos poucos aprova dos. Sob a orientação do diretor Celso Brand, ele começou a trabalhar, dedicando-se de corpo e alma à rádio. Sua estreia no ar foi em 1965, e rapidamente ele se tornou conhecido como "Décio da Rádio". Com sua voz marcante, ele conquistou a audiência e se destacou em programas como o "Clube Social Radiofônico".
Desde que cheguei a Porto Feliz, no ano de 2006, conheci Décio Fernandes. Ele sempre estava nos lugares onde poderia encontrar uma notícia, como na sede da Prefeitura Municipal. Passado um tempo, depois de nos conhecermos melhor, Décio fez diversos convites para que eu fosse até a Rádio para ser entrevistado. A oportunidade aconteceu em 2016, dez anos depois, em dois momentos. Numa primeira oportunidade acompanhei um grupo de alunos que estavam perto das finais da Olimpíada Nacional de História do Brasil, realiza da pela Unicamp. O feito era grandioso, pois eram alunos do 9º ano do Ensino Fundamental de uma escola pública, competindo com estudantes também do 9º anos e, ainda, do Ensino Médio de escolas particulares, militares, técnicas e até mesmo de universidades.
Nessa ocasião, Décio Fernandes reiterou o convite para que eu retornasse para falar da minha atuação enquanto professor na cidade de Porto Feliz. Felizmente eu pude honrar esse convite e conversamos sobre diversos assuntos. Os anos se passaram e, de repente, não soube mais de Décio. Até que um dia recebi a notícia de que estava vivendo na Cidade dos Velhinhos. Ensaiei uma visita, mas como o horário de trabalho toma pratica mente todo o tempo em que estou em Porto Feliz (resido em Sorocaba), fui protelando esse reencontro. Essa é a parte que dói mais.
Em 2019, Décio recebeu a Honraria Desta que da Melhor Idade, um reconhecimento mais do que merecido por sua contribuição ao longo de sua vida.
Com a morte de Décio Fernandes, Porto Feliz não perde apenas um radialista, mas um amigo, um mentor e uma voz que ecoou nas memórias de muitos. Ele foi o narrador de histórias que uniram a cidade, e sua voz jamais será esquecida. Que sua jornada agora seja de paz e que seu legado continue a inspirar as futuras gerações de comunicadores.
Descanse em paz, Décio Fernandes. Sua voz sempre ressoará em nossos corações.
Carlos Carvalho Cavalheiro é professor, mestre em educação, escritor, pesquisador e colaborador da TRIBUNA
Comments