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A Aldeia de Maniçoba


Os compêndios da história brasileira narram que em 1553, antes mesmo da fundação do Colégio de Piratininga, marco inicial da cidade de São Paulo, existiu nesta região, possivelmente às margens do velho Rio Anhembi (Rio Tietê), um aldeamento habitado pelos índios Tupis, Guaranis e Carijós, com a denominação de Maniçoba. Dizem os historiadores que a Aldeia de Maniçoba, também chamada de Japiuba, teve a efêmera duração de pouco mais de dois anos e que, de acordo com uma carta atribuída ao sacerdote Pero Correia, escrita em 18 de julho de 1554, seu fundador teria sido o padre Manoel da Nóbrega.


Não obstante a inexistência de documentos que comprovem o local exato onde se situava a Aldeia de Maniçoba, certo é que o Padre José de Anchieta por duas vezes, mencionou em seus escritos, que a distância entre Piratininga (São Paulo) e a Aldeia de Maniçoba, era de aproximadamente 90 milhas romanas, o que resultaria cerca de 130 quilômetros, a mesma distância que atualmente separa o Município de Porto Feliz e a cidade de São Paulo.


Por conta da falta de documentação mais precisa, a localização de Maniçoba tem dado origem às mais variadas hipóteses, sendo importante ressaltar as narrativas dos padres Pero Correia, José de Anchieta e Manoel da Nóbrega, nas quais afirmam que pouco antes de fundar-se o Colégio de São Paulo os Jesuítas teriam organizado, uma primeira capela com colégio, junto de um rio navegável. Um mapa em espanhol produzido no começo do século XVII faz menção à aldeia como “Puerto de Maniçoba”, num entroncamento entre o Rio Anhembi e algum afluente não identificado, coincidindo, em parte, com a localização do Porto de Araritaguaba.


Dentro desse raciocínio um precioso texto atribuído ao Professor José Carlos Vilardaga, catedrático de História da América da Universidade de São Paulo, explica que a localização da Aldeia de Maniçoba coincidiria, também em parte, com o local conhecido como Porto de Pirapitingui das fontes, de onde se embarcava no Anhembi (Rio Tietê), rumo ao Rio Paraná nos séculos XVI e XVII, e que esse lugar pode mesmo ser o histórico Porto de Araritaguaba, importante ponto de embarque e desembarque no velho Rio Anhembi dos paulistas. É necessário ressaltar, em que pese a falta de documentos precisos, que alguns estudiosos situaram a Aldeia de Maniçoba cerca de uma légua e meia abaixo do antigo Porto de Araritaguaba, no local conhecido como “Cachoeira de Avarémanduava”, que significa lugar onde o padre naufragou. Sobre esse assunto o historiador Brasílio Machado escreveu que no ano de 1560 o padre José de Anchieta se fez missionário, indo catequizar os índios terra adentro e, em 1561, fez a incursão pelo Rio Anhembi, atual Rio Tietê, com a missão de ensinar os índios e de levar o alvará de perdão aos fugitivos Domingos Luís Grou e Francisco Correia, onde naufragou em uma cachoeira logo abaixo da atual cidade de Porto Feliz. Essa imponente cachoeira no leito do Rio Tietê está localizada nos fundos da atual empresa Lanxess, descendo o rio a partir do antigo Porto de Araritaguaba.


Infelizmente não existem documentos comprobatórios, mas dentro das hipóteses levantadas pelos estudiosos da história, e considerando o naufrágio do padre Anchieta na cachoeira de “Avarémanduava” é possível que a Aldeia de Maniçoba tenha sido o marco inicial do Arraial de Araritaguaba, atual cidade de Porto Feliz. Nesse sentido o Padre Jesuíta Hélio Abranches Viotti em seu livro Anchieta - O Apóstolo do Brasil afirma, categoricamente, que na Aldeia de Maniçoba estava situado o Porto fluvial no qual os viajantes embarcavam para descer o Rio Tietê. Diante de tantas evidências é possível admitir que o povoamento em Araritaguaba tenha mesmo sido iniciado muito antes do ano de 1693, como ensinam os compêndios da história brasileira. Certo é, todavia, pela magia que envolve as noites dos tempos, que as minúcias desse acontecimento, como as de tantos outros, ficarão eternamente mergulhadas nas águas do legendário Rio Tietê e gravadas nas pedras da Cachoeira de Avarémanduava, como mais um dos inúmeros mistérios que envolvem a rica história de Porto Feliz.


Salve Terra das Monções / Tua gente varonil / Honrará tuas tradições / E a grandeza do Brasil!


Reinaldo Crocco Júnior é advogado, escritor, pesquisador e colaborador da TRIBUNA

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